segunda-feira, 28 de setembro de 2009

http://educacao.uol.com.br/literatura/ult1706u30.jhtm 

Modernismo no Brasil - o início

Das vanguardas européias à Semana de Arte Moderna

Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
A Boba, 1915/16, óleo de Anita Malfatti que escandalizou Monteiro Lobato (MASP)
As vanguardas européias foram importantes para o desenvolvimento da arte moderna no Brasil. O futurismo, na Itália; o expressionismo, na Alemanha; o cubismo de Picasso ou o dadaísmo na Suíça... Esses movimentos, e outros que os seguiram, influenciaram bastante os intelectuais brasileiros, principalmente aqueles que mantinham contato direto com essas vanguardas, quando viajavam para a Europa.

Na virada do século 19 para o 20, a Europa vivia intensamente o clima de rompimento com todo o passado artístico e cultural. O clima político era tenso às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e com a Revolução Russa, em 1917.

Por essa razão, a tensão emocional dos artistas falava alto e determinava o tipo de criação artística e literária. Eles viviam intensamente a glorificação do mundo moderno e a criação, totalmente livre, de cada modo de expressão, de cada estilo e temática, de cada pintura ou escultura antiacadêmica.

Leia tal rebeldia nos versos de Manuel Bandeira:

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas!
[...]


("Poética")

Dentre os intelectuais brasileiros que mantinham contato com as idéias da Europa, Oswald de Andrade (pronuncia-se Osváld), polêmico jornalista e escritor, introduz as novidades quando elogia, num artigo de jornal, o poeta Mário de Andrade, chamando-o de "meu poeta futurista" (1914) - embora os versos de Mário, tão esquisitos, criassem estranheza entre os leitores. Imagine-se um poeta jovem rimar a forma verbal voou com um verso assim: "E o vento continua com seu oou".

Nem todos os intelectuais dessa época (que, aliás, freqüentavam as casas burguesas dos ricaços da Avenida Paulista) viraram modernistas de fato. Mas todos aderiram ao termo "futurismo" (usado com desprezo pelos conservadores...). Mário de Andrade escreveria:

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
O burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
É sempre um cauteloso pouco-a-pouco.
[...]


("Ode ao burguês"/Paulicéia Desvairada)

Houve um primeiro escândalo: a jovem pintora Anita Malfatti, que acabava de voltar de seus estudos na Europa, fazia uma exposição de quadros "expressionistas" no centro da cidade (1917). O respeitado escritor Monteiro Lobato não gostou e, num violento artigo de jornal, perguntava se essa moça era louca ou estava querendo enganar a todos. O texto, ainda hoje famoso, chama-se "Paranóia ou Mistificação?" e provocou revoltas: muitas pessoas devolveram quadros comprados, outras agrediram a pintora e suas telas.

Mas o efeito final foi excelente para o nosso modernismo: em torno dessa jovem se reuniram Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Villa-Lobos, Di Cavalcanti e outros artistas, que, juntos e muito corajosos, acabaram fazendo a Semana de Arte Moderna.

Modernismo

Características da linguagem

Thaís Nicoleti de Camargo
Especial para a Folha de S.Paulo
Quem nunca ouviu os versos "Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida,/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais!/ ? Pode-se dizer que pertencem a uma espécie de inventário popular. Chegam a ser mais conhecidos que seu próprio autor, o romântico Casimiro de Abreu.

Bem verdade é que o emprego da expressão "aurora da minha vida" como sinônimo de "infância" hoje assume certo tom jocoso. E o motivo disso é o desgaste que lhe foi imposto pelo reiterado uso. Embora seja uma bela imagem, tornou-se o que chamamos de "chavão" ou "clichê".

A simplicidade e a musicalidade das redondilhas maiores, ao lado da escolha temática, certamente contribuíram para a permanência desses versos em nossa memória coletiva. O outro lado dessa moeda, entretanto, é a falta de impacto que nos provocam hoje, num tempo em que a originalidade é um valor em si.

Um dos caminhos trilhados pela literatura modernista foi o da releitura, muitas vezes paródica, de textos consagrados. Oswald de Andrade, um dos ícones da Semana de 22, escreveu o poema "Meus sete anos", texto que dialoga com o de Casimiro. Diz ele: "Papai vinha de tarde / Da faina de labutar/ Eu esperava na calçada/ Papai era gerente/ Do Banco Popular / Eu aprendia com ele/ Os nomes dos negócios/ Juros hipotecas/ Prazo amortização/ Papai era gerente/ Do Banco Popular/ Mas descontava cheques/ Do guichê do coração". A infância surge dessacralizada -sem a aura de idealização que lhe emprestava Casimiro-, mas, nem por isso, menos marcante. Em Oswald, predomina o ambiente urbano sobre a paisagem bucólica de Casimiro.

Nas escolhas de cada poeta, percebem-se distinções de época: entre os modernistas, prevalece o cenário urbano (associado ao desenvolvimento tecnológico e científico), bem como o tom prosaico da linguagem, que acusa certa consciência crítica (em substituição ao mero devaneio poético). O lirismo instala-se na estrutura do texto, ou seja, independe de frases de efeito.

Modernismo no Brasil - a Semana de Arte

São Paulo e a 1ª geração modernista

Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/1920.php
Cartão postal de São Paulo na década de 20
Na época da Semana de Arte Moderna, São Paulo estava se transformando rapidamente; era uma capital progressista, por causa do crescimento trazido pela economia; havia novos costumes, novas relações políticas, novas influências; havia tantos estrangeiros, tantos burgueses, tantos intelectuais se mobilizando que a Semana de Arte Moderna só podia mesmo ter acontecido nessa cidade - e não no Rio, que tinha sido, até então, o tradicional centro cultural do Brasil.

E aconteceu mesmo. Em fevereiro de 1922, três dias de intensas e escandalosas apresentações no moderníssimo Teatro Municipal de São Paulo foram suficientes para "escandalizar" a sociedade paulistana.

Num dos dias, Villa-Lobos sobe ao palco de casaco e chinelos para tocar suas composições modernistas: novo escândalo, pois se supôs que a unha encravada do maestro fosse uma atitude modernista e desrespeitosa para com a música clássica.

Um outro escândalo haveria de protagonizar o poeta Ronald de Carvalho, incumbido de declamar um poema, enviado por Manuel Bandeira, para o evento. Tal poema, "Os sapos", debochava ostensivamente do parnasianismo tão exaurido de Olavo Bilac:

[...]
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos
[...]


("Os Sapos")

Características da primeira geração do modernismo

Com se pode imaginar, a Semana não foi o exato início do modernismo, que já agitava São Paulo desde 1912/1915, mas foi o mais ruidoso momento em que se expuseram as novas idéias e posturas intelectuais, as quais viriam marcar todo o século 20.

O modernismo dessa primeira geração guerreira é, então, sobretudo um movimento contra tudo o que está instituído, o que é velho; os modernistas dizem "não" à arte artificial, cheia de rimas frias e sonetos perfeitos e vazios.

O poeta Carlos Drummond de Andrade, sabendo exatamente o que é essa liberdade, viria a escrever, logo a seguir:

Não rimarei a palavra sono
Com a incorrespondente palavra outono
Rimarei com a palavra carne
Ou qualquer outra, que todas me convêm.

As palavras não nascem amarradas
Elas saltam, se beijam, se dissolvem
No céu livre por vezes um desenho
São puras, largas, autênticas, indevassáveis.


"Consideração do poema" (A rosa do povo)

O espírito desses artistas era polêmico, original e debochado. Havia entre eles, como se vê, uma posição anárquica, cuja frase famosa de Mário de Andrade os justificava: "Não sabemos definir o que queremos mas sabemos o que não queremos!". Tinham de lutar para demolir a vida social brasileira, que consideravam colonial, antiga, lusitana. E havia, sobretudo, um nacionalismo intransigente, que viria a criar Macunaíma, de Mário de Andrade, ou a Poesia Pau-Brasil de Oswald:

Escapulário

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia


Busca de originalidade

Foram esses artistas totalmente originais? Não, mas conseguiram levar para a poesia e para a prosa o vocabulário do cotidiano, conseguiram subverter a ordem sintática tão artificial da poesia parnasiana, escolheram novos temas e, principalmente, trouxeram a literatura para o momento presente, os fatos do presente para a literatura e a modernidade de se poder pensar a própria arte para fazer arte (metalinguagem).

Sem esses ingênuos e lutadores artistas, porém fabulosos modernistas de primeira geração, os escritores que vieram depois jamais seriam tão sólidos como foram. Na loucura desses moços, fundou-se no Brasil o que há de mais importante: estarmos passo a passo com a modernidade do mundo. Ou seja, eles eram livres e "internacionais". Como disse Mário de Andrade:

Leitor
Está fundado o Desvairismo.
Este prefácio, apesar de interessante, inútil.
[...]
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem
pensar tudo o que meu inconsciente me grita.
Penso depois: não só para corrigir, como para
justificar o que escrevi. Daí a razão deste


("Prefácio Interessantíssimo", 1922)

Modernismo no Brasil - a 2ª geração

O Romance de 30

Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Maria Ribeiro no filme Vidas Secas, adaptado do romance de Graciliano Ramos
Depois da Semana de Arte Moderna, a idéia de "modernismo" - ou seja, de novas atitudes artísticas contra a arte encarada como artificial, contra tudo o que os escritores consideravam "velho"- parecia não ter sido absorvida e a literatura no Brasil parecia não ter mudado em nada.

Entretanto, alguns intelectuais de várias regiões começaram a manifestar-se: a verdadeira arte moderna devia retratar criticamente um Brasil mais abrangente, que mal se conhecia, cujas desigualdades sociais fossem retratadas com vigor num realismo próprio do século 20. A arte literária, segundo vários intelectuais, devia sair dos "salões aristocráticos de São Paulo", quer dizer, devia abandonar o contato apenas com o urbano, influenciado pelas vanguardas européias.

O Romance de 30

Em 1926, ocorre um congresso em Recife e nele se encontram escritores do Nordeste; estes se dispõem, aos poucos, a fazer uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras manifestações que surgirá um dos momentos mais autênticos da literatura brasileira, o Romance de 30.

A data de 1930 é marcante porque consolida a renovação do gênero romance no Brasil, ou seja, traz novos rumos à prosa. Depois de tanta arruaça intelectual dos primeiros modernistas no Sudeste do país, procura-se atingir equilíbrio e estabilidade, que, aos poucos, vai aparecendo em obras e mais obras: O quinze, de Rachel de Queiroz (1930); O país do Carnaval, de Jorge Amado (1931); Menino de engenho, de José Lins do Rego (1932); São Bernardo, de Graciliano Ramos (1934); e Capitães da areia, de Jorge Amado (1937).

Esta nova literatura em prosa será antifascista e anticapitalista, extremamente vigorosa e crítica. Os livros didáticos a chamam com vários nomes: "Romance de 30" (porque é o início cronológico da nova literatura); romance neo-realista (porque essas obras conseguiram renovar e modernizar o realismo/naturalismo do século 19, enriquecendo-o com preocupações psicológicas e sociais) ou romance regionalista moderno (porque escapa das metrópoles e vai ao Brasil regional, preso ainda a antinomias dos séculos anteriores).

Lembremos, inclusive, que algumas obras sociológicas fundamentais surgem nessa mesma época: Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, é de 1933, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, de 1936.

De todos os nomes para essa época, o melhor parece ser o do título deste artigo. Por quê? Porque os romances de Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo, completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem regional, as gírias locais.

A consciência crítica

Mais do que tudo, através dessa "fala", consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.

Leia, por exemplo, um trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos
[...]
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanhacado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.


Perceba a força narrativa com que o narrador descreve a cena cruel, de retirantes exaustos sob o sol, a família silenciosa e triste, com a qual ele se solidariza ("os infelizes"); ele e nós, os leitores. A lentidão proposital da narrativa é a superação difícil do caminho sob o sol (para onde vai quem não tem terras?) e a secura descritiva reproduz o silêncio dos que estão exaustos. Essa é a seca vida do herói - agora um anti-herói -, humilhado e vencido pelo meio hostil.

Esses romances foram fundamentais para o amadurecimento da consciência crítica e social do leitor brasileiro. Com eles, encontramos formas de compreensão do homem em várias faixas da sociedade brasileira e do determinismo que o persegue em situações adversas. É injusto pensarmos que esses romances mostraram apenas as "mulatas gabrielas" para o mundo exterior. As formas de narrar o cotidiano ficaram mais complexas e tensas.

Leia mais um trecho de Graciliano Ramos, não da história de Fabiano, mas da de Paulo Honório, que foi guia de cego e trabalhador de enxada, mas conseguiu conquistar, com violência e determinação, além da fazenda de São Bernardo, respeito, dinheiro e prestígio: virou um coronel. Teria sido um Fabiano que deu certo? Parece que não:

Cinqüenta anos perdidos, cinqüenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei
[...]
Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.
[...]
Não consigo modificar-me, é o que aflige.
[....]
A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.


A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura.

Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência" brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.

Por outro lado, mesmo com os romances mais pitorescos e menos brutais, os leitores aprenderam, como nos ensina Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira), que o velho mundo dos homens poderosos não acaba tão facilmente: as estruturas das oligarquias regionais se mantêm através do poder e da força, e é contra eles que se tem de lutar. Como nos conta Jorge Amado, ao final de Capitães da areia:

No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.
[...] E no dia em que ele fugiu..., em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. [...] Qualquer daqueles lares se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.


E a poesia, perguntará você? Deixou de ser feita nesses anos duros da seca? De jeito nenhum.. Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário e Oswald de Andrade, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo, Murilo Mendes e outros poetas continuavam sua longa carreira lírica modernista.

Modernismo no Brasil - a 3ª geração

Crítica social e metalinguagem

Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução - United States Department of Defense
Hiroshima, 6 de agosto de 1945. A bomba é tema do poema de Vinicius de Moraes
Depois do modernismo da Semana de Arte Moderna, em 1922 (1ª geração modernista), e do incisivo e duro modernismo de 1930, em que predominou o romance regionalista (2ª geração modernista), começam a se instalar, a partir de 1945/1950, novos rumos para a literatura brasileira.

A data é fundamental para o mundo todo porque corresponde ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O ano de 1945 foi especialmente importante para o Brasil literário, pois também é o ano da morte de Mário de Andrade - o grande artista, poeta e teórico do modernismo. Com sua morte, encerram-se, simbolicamente, as primeiras vanguardas que realizaram a Semana de Arte.

Além desses fatos, uma nova Constituição, a de 1946, estabelecia pactos sociais novos, tidos como modernizantes e mais justos para o país. Ou seja, o Brasil se modernizava, como, aliás, ocorria no mundo todo. E todos olhavam para os Estados Unidos, que crescia como potência.

Poetas, prosadores e artistas em geral, ajustando-se ao mundo pós-guerra, já tinham total liberdade de usar as formas que quisessem e a temática que lhes parecesse mais adequada para interpretar a vida e o nosso país. Com tal liberdade, até a rima poderia voltar aos poemas - e voltou. Por que não?, diziam os poetas. E, embora esse retorno fosse uma espécie de retrocesso da forma, falava-se muito em desenvolvimento e progresso.

Os avanços sociais e tecnológicos pipocavam no mundo todo e (é compreensível) havia uma postura entusiasmada em todas as sociedades -norte-americana, européia e japonesa: todas em reconstrução. É fácil entender, então, por que se volta a falar em "nacionalismo" e por que se volta a valorizar a arte regional e popular em todos os cantos.

Novos caminhos

No Brasil, a essa geração de escritores dá-se o nome de 3ª geração modernista. Esse início da segunda metade do século 20 tem um momento cultural muito rico, pois as produções literárias, marcadas por todas essas novidades, diversificavam-se; acabava o predomínio da poesia da 1ª geração ou da prosa (2ª geração). Gêneros literários convivem, são feitos experimentos temáticos e lingüísticos, e muitos dos textos escritos para os jornais (as crônicas) começam a crescer e ganhar status de literatura.

Excelente momento esse, pois ao mesmo tempo em que a prosa (romance, conto) buscava caminhos para prosseguir, renovando brilhantemente as técnicas de expressão - como fizeram Guimarães Rosa e Clarice Lispector -, a poesia moderna encontrava ainda maior profundidade de temas, de preocupação social e investigação psicológica, com Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes e outros.

Aliás, a poesia fez até mais crítica social do que a prosa durante o período entre 1945 e 1965. Veja, por exemplo, um trecho de "Carta a Stalingrado", em que Carlos Drummond de Andrade registra a dor pela guerra e a morte:

Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
Outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
E o hálito selvagem da liberdade
Dilata os seus peitos, [...]


(A rosa do povo, 1945)


Ou leia um trecho de seu poema posterior, "A bomba" (a bomba de Hiroshima), em que a própria palavra bomba - como ênfase na devastação da terra e das vidas - é repetida mais de 50 vezes:

A bomba
a bomaé uma flor de pânico apavorando
os floricultores os floricultores
[...]
A bomba saboreia a morte com marshmallow
[...]
A bomba
não iiadnão admite que ninguém se dê
não iiadao luxo de morrer de câncer.
[...]
A bomba
não iiadÉ câncer.


(Lição de coisas, 1962)

Vinicius de Moraes, mesmo depois do fim da guerra, também se deteve no sofrimento mundial, mergulhando na imagem da "Bomba de Hiroxima". Esse poema (na verdade, uma letra de canção), todos nós conhecemos bem, musicado na voz de Ney Matogrosso:

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima [...]

(1962)



Muitos poetas fazem uso insistente da metalinguagem, que se manifesta junto com a preocupação social e política: para que serve a poesia, para falar de sentimentos ou do mundo exterior? A poesia é ou não a arte da palavra? No lindo "O poema", João Cabral de Melo Neto diz:

A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo.

Que monstros existem

Nadando no poço
Negro e fecundo?
Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo

Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?

[...]

(O engenheiro, 1943-1945)


E depois? O que vem?

São tantos os escritores importantes de 1945 em diante que, para cada um deles devemos dar atenção particular. Unidos pela época (guerra fria, bomba atômica, lutas raciais, EUA, (capitalismo), embora diferentes entre si, trouxeram à literatura brasileira da segunda metade do século 20 o intimismo, a visão crítica política, reflexões sobre a poesia e o mundo regional.

Muitos historiadores dizem que o mundo tal qual a história o conhecia deixou de existir a partir da década de 1950. Televisão, liberação feminina, eletrodomésticos novos, telecomunicações muito rápidas, urbanização maciça... Todo esse novo mundo estará vinculado à nova cultura de massa, não com a cultura letrada nem com a cultura popular.

Mas o que vai acontecer com a literatura? Tudo e nada ao mesmo tempo. Dizem que esse é o mundo pós-moderno. Mas essa já é outra história... E os escritores no Brasil participam dela. Enquanto isso, "repare" num trecho de Cecília Meireles, a poeta dessa geração que, já em 1938, era premiada pela Academia Brasileira de Letras:

Serenata

Repara na canção tardia
Que timidamente se eleva,
Num arrulho de fonte fria.

O orvalho trem sobre a treva
E o sonho da noite procura
A voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia
Que oferece a um mundo desfeito
Sua flor de melancolia.
[...]

(Viagem, 1939)

*Márcia Lígia Guidin é doutora em Letras pela USP, ensaísta e editora.

Etapa 7 | Análise comparativa entre a obra escrita e sua adaptação para o cinema.

Questão 12
a- Como os personagens são caracterizados na obra escrita?
b) O cineasta busca fidelidade na composição dos personagens ou enfatiza apenas alguns de seus traços de caráter?
c) O cenário é parte importante na obra escrita? E no cinema?
d) Há elementos acrescentados pelo cineasta à obra original?
e) Como se percebe a passagem do tempo na obra escrita e na produção cinematográfica?
f) Na obra escrita, o tempo é cronológico ou psicológico?
g) O cineasta utiliza o recurso do flashback?
h) O cineasta parafraseia ou parodia a obra original?     

Etapa 6 | A literatura vai ao cinema

Assistam, à versão cinematográfica da Obra "O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna",e façam uma comparação entre a obra escrita e a obra cinematográfica.

Etapa 5 | As múltiplas visões sobre o mesmo tema

Questão 11
Muitas obras da literatura brasileira foram adaptadas para o teatro, o cinema e a televisão. Você poderia citar algumas delas?

Etapa 4 | Ponto de vista e contexto

Questão 8
Atentando para o verso inicial do texto (“Brasil, meu Brasil brasileiro”) e para os três primeiros versos da segunda estrofe (“Ah, abre a cortina do passado” “Tira a mãe preta do cerrado” “Bota o Rei Congo no congado”), seria possível afirmar, observando o ponto de vista do eu-lírico, que o Brasil, em algum
momento histórico, não tenha sido “brasileiro”? Em que época isso teria ocorrido?

Questão 9
Façam a leitura do texto “Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, completa 70 anos”, inserido ao lado da letra da canção. Especialmente nas questões 1, 2 e 3, observamos que Aquarela do Brasil se refere a vários aspectos do nosso país. Transcreva do poema versos em que o eu-lírico evidencie claramente o seu ponto de vista em relação ao Brasil que retrata. Existe alguma relação entre o ponto de vista do eu-lírico e o momento histórico de produção do texto?
Questão 10
Você conhece outros autores da literatura que tenham retratado o Brasil em suas obras? E compositores eruditos e populares? 

Etapa 3 | Figuras de linguagem

Questão 6
Procure identificar qual a figura de linguagem presente em cada verso abaixo transcrito:
a) “Ah, abre a cortina do passado”
b) “Oh, esse coqueiro que dá coco”
c) “E onde a lua vem brincar”
Questão 7
Escreva frases ou orações em que você utilize três das figuras de linguagem revisadas.        

Etapa 2 | Letra e música

Após o debate sobre o texto escrito versus texto cantado, Vocês devem refletir acerca de alguns aspectos, como: existe alguma resistência ao ato de ouvir a leitura de um texto?
E ao ato de ouvir esse mesmo texto associado a uma melodia?
Ambos são realizados com a mesma disposição?
Há influência dos veículos de comunicação no que diz respeito à escolha do que se ouve? 

A mídia divulga da mesma forma os vários tipos de expressão oral? 
Declamadores, repentistas, cantores têm o mesmo destaque nos meios de comunicação?
Esses meios divulgam os vários tipos de música da mesma forma? 
Quais tipos de música costumam divulgar? 
Você conhece algum tipo de música que praticamente não aparece na mídia?      

Etapa 1 | Algumas características do texto em verso e compreensão do poema.

Questão 1
No âmbito literário, o termo verso denota cada linha de um poema. O termo estrofe, por sua vez, designa cada um dos grupos de versos em que se divide um poema. Refrão (ou estribilho) significa o(s) verso(s) que se repete(m) numa canção. Com base nessas informações, diga qual o número de versos de Aquarela do Brasil.
E de estrofes? Qual é o refrão?
Questão 2
O termo “aquarela”, presente no título do poema, remete a qual campo do conhecimento? Seria possível estabelecer uma relação entre o título e o corpo do texto?
Questão 3
Quais elementos da natureza estão presentes no texto? De que forma isso se relaciona com o título Aquarela do Brasil?
Questão 4
No que diz respeito à figura humana, o eu-lírico fala do povo brasileiro de um modo geral ou refere alguns de seus componentes? Qual o objetivo dessa diferenciação?
Questão 5
Especialmente quando se faz uma leitura em voz alta, chama atenção o ritmo dos versos. Existe alguma relação entre esse aspecto formal e o conteúdo veiculado no texto?

"TEMA 4" O poema na letra de música popular brasileira

“Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, completa 70 anos”, pág. 178

Etapa 5 | Correção de textos

Leiam as páginas 156-157 em que é analisado o
tema proposto pela Fuvest em 2009. A seguir, façam a reescrita de uma redação sobre tal proposta temática. Vocês devem trazer esse texto para ser lido, corrigido e reescrito em sala de aula.
    

Etapa 4 | Reescrita de texto

Reescrevam totalmente o texto dissertativo sobre o tema “As relações entre o homem e a TV”.

Etapa 3 | Familiarização com os critérios de correção do texto dissertativo

Questão 6
Levando em consideração os critérios de avaliação do texto dissertativo referidos nas páginas 154-155, apontem quais os defeitos do texto transcrito na lousa, a respeito do tema “As relações entre o homem e a TV”, e procurem analisar o seguinte:
 A televisão é o mais importante veículo de comunicação de massa. O homem tem se relacionado de modo negativo com tal mídia. As novelas, ainda que bastante estereotipadas, são vistas por milhares
de pessoas. Aos domingos, muitos também gastam seu tempo com programas de auditório repetitivos.
Desse modo, observa-se que, durante a semana, diversos indivíduos assistem às mesmices na novela e, no domingo, acompanham-nas nos programas de auditório. A liberdade e a democracia, conquanto sejam ideais dos homens. Hoje em dia, portanto, os telespectadores selecionam criteriosamente o que ver e, assim, mantêm uma relação inteligente com a TV.

Levando em consideração os critérios de avaliação do texto dissertativo referidos nas páginas 154-155,
apontem quais os defeitos do texto transcrito na lousa, a respeito do tema “As relações entre o homem e a TV”, e procurem analisar o seguinte:
Aspectos coesivos referentes
a) ao emprego de conectores entre as orações, os períodos e os parágrafos;
b) à estruturação sintática dos períodos; 

Aspectos macroestruturais relativos à
c) adequação entre tema e tese;
d) adequação entre tese e desenvolvimento;
e) apresentação de argumentos;
f) formulação do desfecho.



Etapa 2 | Compreensão da estrutura do texto dissertativo

Façam a leitura das páginas 152-153.

Questão 3
Explique qual é a diferença, segundo o texto, entre “abordagem” e “tese”. Aproveitando o exemplo temático referido pelo autor (“O desafio de conviver com a diferença” / Enem 2007), redija um parágrafo dissertativo introdutório, em que figurem tese e abordagem .
Questão 4
O que é argumento e qual sua finalidade? O que é progressividade textual? Retome o parágrafo introdutório escrito na questão 3 e acrescente a ele um parágrafo de argumentação. 
Questão 5
Segundo o autor, por que são frequentes as falhas no momento da construção do desfecho? Quais as recomendações do enunciador para que se redija uma conclusão adequada? Retome os parágrafos
que escreveu nas questões 3 e 4 e, em vista da tese e da argumentação apresentadas, formule uma conclusão.

Etapa 1 | Reconhecimento da função do manual e compreensão de suas propostas iniciais

Questão 1
Qual a finalidade de um manual? O que se pode prever de um texto intitulado “Pequeno manual de redação”?
Questão 2
O autor do texto pretende ensinar a produção de um tipo específico de texto? Que texto é esse? O enunciador menciona uma etapa anterior à escrita como sendo uma das mais relevantes. Qual é essa etapa e por que é tão importante? Depois dessa etapa, quais as orientações iniciais que o autor fornece àqueles que objetivam
redigir bem esse tipo de texto?

"TEMA 3" A redação no vestibular e no Enem

“Pequeno manual para redação”, págs. 150-157

Etapa 6 | Produção de texto

Redijam um parágrafo inicial de um artigo de opinião, utilizando os operadores discursivos anteriormente destacados. O tema a ser abordado pode ser “Vantagens e desvantagens do uso do Guia do Estudante
na sala de aula”. Seria interessante, por exemplo, que comparassem o aprendizado antes e depois da utilização
do Guia, apontando as causas de facilidades e dificuldades encontradas nesses dois momentos; seria conveniente dar exemplos de situações. 


Etapa 5 | Análise do emprego de operadores discursivos

Questão 9
Releia as seguintes partes do texto e grife os operadores discursivos, explicando o sentido de cada um.
1) “O provérbio árabe ‘Os cães ladram e a caravana passa’ referese a situações em que qualquer esforço se torna inútil contra uma decisão tomada por alguma força superior. E aplica-se perfeitamente à atual crise de identidade e de poder político por que passa a ONU.”
2) “Foi assim em 2003, quando o latir da ONU não foi capaz de impedir que os Estados Unidos e o Reino Unido passassem por cima da decisão da organização e invadissem, como uma caravana onipotente, o Iraque [...].”
3) “De nada adiantou a insistência de líderes mundiais para que a ONU interviesse [...].”
4) “A instituição [...] além de mediar conflitos internacionais e regionais, envolve-se [...] com questões de saúde, pobreza e meio ambiente [...].”
5) “Todos participam das discussões, mas apenas os membros permanentes têm poder de vetar qualquer proposta discutida – ou seja, basta uma das cinco grandes nações discordar da proposta, e ela não poderá ser adotada.
6) O Japão e a Alemanha [...] ficam de fora das principais decisões da ONU porque, em 1945, estavam do lado perdedor da guerra, junto da Itália.”

Etapa 3 | Identificação de anafóricos, relações de causa e consequência e pressupostos

Questão 4
Ao citar “a transição da ONU de protagonista a figurante entre os diversos atores da política internacional”, o autor ratifica sua tese?
 Questão 5
Releia com atenção o excerto abaixo (final do terceiro parágrafo do texto):
“E parte da responsabilidade por essa mudança recai sobre a estrutura e o funcionamento da própria organização, que se baseia numa realidade de 60 anos atrás.”
A que mudança o texto se refere? De acordo com o enunciador, essa mudança é consequência de algo. Para ele, qual seria uma das possíveis causas dessa mudança?

Questão 6
O uso do termo anacronismo pressupõe um julgamento das ações atuais da ONU? O juízo de valor anunciado no subtítulo se confirma no segmento de texto seguinte com o auxílio de quais argumentos?
Questão 7
Releiam o segmento intitulado Reformas”, na página 70. Em relação ao fato de a ONU não ter se modificado durante seus 60 anos de existência, o posicionamento das nações é o mesmo? Algumas propõem alterações? Cite duas dessas propostas. Há nações contrárias às mudanças?
Questão 8
 Releiam o segmento intitulado “O Brasil no Haiti” e identificassem a relação desse conteúdo
com o anterior.Destaquem as opiniões favoráveis e contrárias ao fato de o Brasil chefiar a missão de paz da ONU no Haiti desde 2004.
Questão 2
Qual a tese defendida pelo enunciador do texto “Nações não tão unidas”?
Questão 3
Quais os argumentos utilizados pelo enunciador nos dois parágrafos iniciais para a defesa de seu ponto de vista? 


"TEMA 2" Etapa 2 | Distinção entre tese e argumento

Analisem o percurso argumentativo do texto lido, escolham um tema de sua preferência e, 
por escrito, manifestasse um ponto de vista sobre este, ou seja, defenda seu ponto de vista, apresentando
pelo menos um argumento para defendê-la. Enviem para meu email ou entreguem em sala de aula.

pagina 68-71  Guia do Estudante (Amarelo)